Quando entrei no Instituto Precisa, já havia trabalhado em setores de meio ambiente e qualidade mas o termo sustentabilidade era pouco falado. Suely então me apresentou dois livros: o Plano B, de Lester Brown e Cannibals with Forks, de John Elkington. Os dois explicam bem o conceito de sustentabilidade quanto ao desenvolvimento econômico, contemplando também as questões socioambientais. O Plano B é leitura obrigatória e gratuita (clique aqui para o download) e Lester Brown é apaixonante, lúcido em suas colocações, racional e muito objetivo.
Ler Lester Brown é como estar em sala de aula de bom professor e enquanto lia suas teorias e argumentações, me lembrava de minha professora de Ciências do ensino básico: Dóris Guimarães. Era a década de 70 em que protestávamos contra a ditadura de camisetas brancas e calças Lee, tinha que ser Lee. Eram importadas e caras e eu tinha apenas uma que usava de segunda a sexta e lavava aos sábados de manhã. Nos invernos chuvosos de Petrópolis, às vezes tinha que secar com o ferro de passar antes de começar nova semana.
Dóris, muito criativa e excelente comunicadora, nos levava para aulas ao sol, no jardim do colégio Ateneu (hoje prédio da prefeitura de Petrópolis). Carregávamos nossas carteiras e assistíamos a aula aquecidos, no severo inverno petropolitano. Ela nos falava sobre poluição do ar e dos mares e não media esforços para que a gente gostasse de entender o pouco que já se falava sobre ecologia e meio ambiente. Uma vez nos levou ao Rio, na kombi da escola. Não fomos ver o Cristo ou o Pão de Açúcar que era o passeio tradicional que escolas faziam na cidade maravilhosa. Fomos coletar água de várias lagoas e rios em vidros de Nescafé vazios que ela nos orientou a juntar para o projeto de ciências. Aos 10 anos aprendíamos que a responsabilidade de manter rios limpos era pública e industrial. Aprendíamos também que mais importante do que falar mal das indústrias era perceber a nossa participação no processo porque já gostávamos do consumo, com nossas calças Lee que contribuíam com o ciclo de poluição. Dóris falava de meio ambiente e qualidade de vida com simplicidade, propriedade e muito bom humor. Era ao mesmo tempo moderna, fraternal e questionadora. Sabia unir o material dos livros com o que era importante para a gente de maneira harmônica e graças ao que nos ensinava, decidi não fumar quando outros amigos aderiram à onda.
Esse ano, achei minha professora Dóris, num grupo de ex-alunos do Ateneu, criado pelo blogueiro Thêmis da Claque e tomamos chá com o Ronaldo do Ateneu. As primeiras palavras que ouvi de amor à natureza e cidadania me acompanham no Instituto Precisa todos os dias e apesar de me apaixonar por Lester Brown, é na professora Dóris que penso quando leio ou escrevo sobre sustentabilidade.
Adelia Di Buriasco.
Adelia Di Buriasco.