"Sustentabilidade, desenvolvimento econômico considerando meio ambiente e aspectos sociais." Essa frase martelava minha cabeça quando comecei a trabalhar no Instituto Precisa. Tudo envolvia o tripé da sustentabilidade e eu adorava quando conseguia distinguir as três correntes em um mesmo trabalho, como um projeto que Suely participou em suas andanças, em que precisou identificar os requisitos de qualidade e meio ambiente para que uma produção de agricultura familiar pudesse fornecer seus produtos no comércio local.
Até hoje é o projeto que mais gostei no Instituto Precisa. Pessoas simples do campo que trabalham com agricultura orgânica e vendem seus produtos na comunidade local. A comunidade se desenvolve economicamente, os consumidores compram produtos saudáveis, não há grandes deslocamentos para a entrega da produção com queima de combustível do transporte e a terra é tratada de maneira natural sem uso de agrotóxicos. Tudo sustentável. O casamento perfeito.
Busquei também meu casamento perfeito. De volta a Petrópolis, reencontrei um antigo amor que havia voltado para a serra pelo mesmo motivo que eu, ficar mais perto da mãe. No primeiro encontro, um piquenique no jardim da linda igreja do Bonfim, comecei a analisar meu namorado pela ótica da sustentabilidade. Não era consumista e trabalhava recuperando carros antigos, colocando muito fusca para rodar ajudando casais a carregarem seus filhos pelos morros íngremes de Petrópolis; tinha sugerido o passeio no Bonfim mostrando ser amante da natureza; era muito carinhoso com a mãe, deixando o mundo da mecânica de corridas em Interlagos que adorava para estar mais perto dela. Enfim - aprovado!
Em pouco tempo, arrumou melhor a oficina em que trabalhava, no mesmo terreno da casa de sua mãe e com bastante criatividade e poucos recursos, organizou um cantinho pra gente morar. Logo de início, estabelecemos a condição de fazer tudo de maneira sustentável. A essa altura, o termo "sustentabilidade" já era familiar para ele também. Conseguiu geladeira e fogão usados e compramos apenas um colchão que, ainda envolto no plástico da fábrica, ficou no chão coberto com colcha de retalhos que compramos de uma senhora que fazia o ganha pão aproveitando as sobras das confecções petropolitanas. Vivíamos um gostoso romance inspirado em Jack Johnson - I Got You.
O combinado era comprar o mínimo, reaproveitar usados, respeitando o que a política de resíduos determina: evitar a geração de resíduos, reduzir e reutilizar. Na sexta-feira, foi me buscar no trabalho dizendo que tinha uma surpresa em casa. É claro que para cinquentões, dormir no chão não ajuda muito as costas já cansadas, mas quando entrei no quarto e vi que tínhamos uma cama de casal bonita com jeito de coisa cara, senti uma mistura de alegria e frustração e não consegui evitar a pergunta, sem me importar em estragar o clima de romance de sexta-feira:
- Pôxa amor, combinamos que não íamos comprar nada agora e você sequer me perguntou.
- Relaxa querida, essa beleza eu achei no lixo, só precisou de umas marteladas.
Adelia Di Buriasco